quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os Meninos Kin-Der


Já está disponível nas livrarias a última aventura editorial de Manuel Caldas, que nos dá a descobrir numa excelente edição, um clássico da Banda Desenhada, publicado nos jornais americanos em 1906, portanto contemporâneo do “Little Nemo” de Winsor McKay, mas muito menos conhecido do que este. Esse clássico esquecido, que Manuel Caldas publica em muito grande formato (33 cm por 44,5 cm), numa edição restaurada com o rigor a que já nos habituou, é “The Kin-Der Kids ”, a mítica série que marcou a breve ligação do pintor Lyonel Feininger com a BD.
Filho de dois músicos profissionais, Feininger nasceu em Nova Iorque em 1871, mas viveu a maioria da sua vida na Europa, tendo ido para Berlim em 1886, inicialmente para estudar música, mas acabando por se inscrever antes na Academia de Arte de Berlim, onde iniciou uma formação, prosseguida em Paris, que o ajudaria a tornar-se um nome grande da pintura, com incursões pelo expressionismo e pelo cubismo. Um dos primeiros professores da Bauhaus, a célebre escola artística criada por Walter Gropius em 1919, Feininger manteve-se na Europa até 1937, altura em que, face à proximidade da II Guerra Mundial, decidiu regressar aos EUA, mas foi durante a sua estadia na Europa que o breve “flirt” deste pintor com a BD se concretizou, com “The Kin-Der Kids” e “Wee Willie Winkie’s World”, duas séries que durariam apenas alguns meses, entre 1906 e 1907.
A edição organizada por Manuel Caldas, conta com uma excelente introdução de Ruben Varillas, que faz o enquadramento do trabalho de Feininger na arte do seu tempo, para além de trazer uma amostra de “Wee Willie Winkie’s World”, a outra série de Lyonel Feininger que, ao contrário dos “Meninos Kin-Der”, não é reproduzida na íntegra. O facto de ter Feininger, ao que consta por divergências com o seu editor, o jornal “Chicago Tribune”, ter interrompido as duas séries a meio, apenas nos permite ter uma ideia do que poderia vir a sua actividade como autor de BD. O que é evidente é a forma como a BD que faz reflecte a sua formação artística e as suas inquietações estéticas, numa época em que, tal como sucedeu em Portugal com os modernistas, como Almada Negreiros, Cottinelli Telmo e Carlos Botelho, os caminhos da BD e da pintura se cruzavam com grande frequência.
(“Os Meninos Kin-Der”, de Lyonel Feininger, LiBri Impressi, 40 pags, 22 €)
Texto originalmente publicado no Diário As Beiras de 11/09/2010

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