quarta-feira, 16 de março de 2011

O Gato de Sfar


Tal como aqui referi na semana passada, há que estar atento à colecção “Os Incontornáveis da Banda Desenhada”, actualmente em distribuição nos quiosques. A prová-lo está este 2º volume, que recolhe 3 álbuns da série “O Gato do Rabino”, de Joann Sfar.
Um dos mais prolíficos criadores da BD europeia, Sfar tem uma produtividade inacreditável, acumulando uma vasta actividade como argumentista e desenhador, com incursões ocasionais noutras áreas, como o cinema, onde se estreou com o magnífico “Gainsbourg, Vie Heroique”, uma biografia em tom de fábula do cantor francês Serge Gainsbourg, que passou de forma discreta nos cinemas portugueses (em Coimbra, passou apenas durante a Festa do Cinema Francês), estando a trabalhar neste momento num filme de animação baseado precisamente nesta série “O Gato do Rabino”, de que já circulam algumas imagens.
Com excepção da série “Donjon”, escrita a meias entre Sfar e Trondheim, e dos álbuns “O Principezinho” e “A Filha do Professor”, não há muita coisa de Sfar editada em Portugal, o que dá uma importância ainda maior a esta edição, que recolhe os 3 primeiros álbuns de uma das séries mais emblemáticas de Joann Sfar, que se devia chamar, não o gato do rabino, mas “o Gato da Filha do Rabino”, pois a dona do gato é a bela Zlabya, filha do Rabino.
Ambientada na comunidade judia sefardita da Argélia dos inícios do século XX e protagonizada por um gato que ganha o dom da palavra depois de comer um papagaio, a série é uma divertida e sensível análise às questões da religião, servida por diálogos deliciosos (veja-se a conversa entre o gato, que quer fazer o “Bar-Mitzvá”, e o rabino do rabino). Sfar desenha tão depressa como escreve, mas o seu traço, mais caligráfico do que ilustrativo, é de uma eficácia surpreendente, sendo excelente em termos de criação de ambientes e na forma como retrata as poses do gato (o que nem deve ter sido difícil, pois foi um dos gatos de Sfar que serviu de modelo para o gato do Rabino).
O único problema desta edição, é que deixa de fora, os 2 últimos álbuns da série: “Le Paradis Terrestre” e “Jerusalém d’Afrique”, em que, depois de uma viagem a Paris, que não entusiasmou o Rabino, a família regressa a África. O que, não havendo garantias de que a Asa prossiga a série, deixa os leitores que queiram saber o que acontece a seguir, condenados a recorrer às edições de língua francesa ou inglesa.
(“Os Incontornáveis de Banda Desenhada 2: O Gato do Rabino”, de Joann Sfar, Edições Asa/Público, 144 pags, 7,40 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 12/03/2011

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