sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Schuiten regressa com 12: A Doce


Uma das novidades da Asa para esta “rentrée” foi o regresso de Schuiten às livrarias portuguesas, desta vez assinando a autoria completa de uma história fora do universo das Cidades Obscuras, centrada na relação de um velho mecânico com a sua locomotiva, a mítica 12, uma poderosa e velocíssima locomotiva a vapor de linhas arrojadas, de que apenas se construíram seis exemplares, nos finais dos anos 30 e que o advento dos comboios electricos e a falta de metal durante a II Guerra Mundial, que levou à destruição de cinco das seis locomotivas produzidas, atiraria para o esquecimento, de que Schuiten a veio resgatar.
É precisamente a última dessas lendárias máquinas, a 12.004, cujo “design” futurista não destoaria num álbum das Cidades Obscuras, que Schuiten escolheu para protagonista do seu primeiro álbum a solo. Uma consequência do envolvimento de Schuiten no projecto de cenografia do futuro Museu dos Caminhos de Ferro Belgas, a abrir proximamente em Bruxelas, de que a 12 é uma peça central. Antes de mais, convém descansar os leitores mais inquietos, pois este livro não significa o fim da colaboração entre Schuiten e Peeters, nem das suas incursões pelo universo das Cidades Obscuras. Foi apenas uma pausa ocasional no percurso comum da dupla, motivada por uma momentânea falta de disponibilidade de Peeters, para colaborar com o seu amigo e cúmplice de mais de quatro décadas, que levou Schuiten a contar sozinho esta história.
Uma história que em termos de estrutura e de personagens, não difere muito dos álbuns das Cidades Obscuras, com um homem mais velho e solitário, neste caso, o maquinista Léon Van Bel, cujo quotidiano cinzento é perturbado pela chegada de uma mulher mais nova e rebelde, que nesta história é Elya, uma jovem muda. Ou seja, se não fosse a ausência de elementos fantásticos, aqui circunscritos aos sonhos de Van Bel, este poderia ser perfeitamente um álbum das Cidades Obscuras, a que faltasse o toque literário dos diálogos de Peeters, pois se as histórias são criadas a meias, em constante diálogo, Peeters introduz outra profundidade no resultado final, graças aos seus diálogos.
Já em termos gráficos, Schuiten está ao seu melhor nível e completamente apaixonado pelas linhas aerodinâmicas da 12, que é a verdadeira protagonista da história. Uma história em que a sua apurada técnica de preto e branco, próxima da gravura, remete graficamente para alguns volumes das Cidades Obscuras, como “A Torre”, ou “A Criança Inclinada”, com páginas magníficas que confirmam todo o virtuosismo de um dos maiores mestres da Banda Desenhada europeia.

Em suma, mesmo que a falta de Peeters se faça notar um pouco em alguns momentos, este “12: A Doce”, não deixa de ser absolutamente indispensável para os fãs da dupla, que já nos deu obras-primas, como “A Febre de Urbicanda”, ou “A Fronteira Invisível”.
(“12: A Doce”, de François Schuiten, Edições Asa, 88 pags, 21,90 €)

Sem comentários: