quinta-feira, 5 de março de 2015

Colecção Novela Gráfica 2 - A Louca do Sacré-Coeur, de Moebius e Jodorowsky


MOEBIUS E JODOROWSKY CHEGAM À COLECÇÃO NOVELA GRÁFICA 
COM A LOUCA DO SACRÉ-COEUR

Novela Gráfica- Vol 2
A Louca do Sacré-Coeur
Argumento - Jodorowsky 
Desenhos – Moebius

Conhecido em Portugal essencialmente pelo seu trabalho na série de Banda Desenhada, O Incal, ilustrada por Moebius, e em todo o universo que dela emanou (como A Casta dos Metabarões), Alejandro Jodorowsky é muito mais do que um mero argumentista de BD de ficção científica. Considerado como um guru por personalidades do mundo da música tão diferentes como John Lennon e Yoko Ono, que ajudaram a financiar os seus filmes El Topo e La Montaña Sagrada e Marilyn Manson, que cita abertamente La Montaña Sagrada no vídeo de The Dope Show, Jodorowsky revela-se uma personagem tão ou mais fascinante do que a sua própria obra, a qual reflecte as suas vivências e crenças místicas.
Verdadeiro homem do Renascimento, este filho de judeus emigrantes russos, nascido no Chile em 1929, foi actor, mimo (discípulo de Marcel Marceau), tarólogo de renome, responsável, com Philipe Camoin pela restauração do Tarot de Marselha, criador de uma nova técnica terapêutica chamada Psicomagia, poeta, escritor, dramaturgo, encenador, fundador do grupo surrealista Panique (com Fernando Arrabal e Roland Topor), realizador de cinema e principalmente, argumentista de BD.
Curiosamente foi no cinema que se deu a primeira colaboração entre Jodorowsky e Moebius, num projecto de adaptação cinematográfica do romance Dune, de Frank Herbert que acabou por não chegar a bom porto, mas que deu origem a uma frutuosa colaboração no campo da BD, de que nasceu a série O Incal, para além de outras pérolas como Os Olhos do Gato e esta A Louca do Sacré-Coeur.
Nascido em 1938 e falecido em 2012, Jean (Moebius) Giraud, foi um dos mais importantes nomes da BD europeia. Possivelmente, um dos melhores desenhadores realistas que a Banda Desenhada conheceu, com o nome Gir, com que assinava as aventuras do Tenente Blueberry, Giraud, com o pseudónimo Moebius, foi também um dos mais influentes autores de BD de sempre, co-fundador da revista Metal Hurlant e responsável pela criação de alguns dos mais fantásticos universos da BD, para além de ter emprestado o seu fabuloso traço à BD, em histórias surreais e ao cinema e à publicidade, em magníficas ilustrações marcadas pela originalidade do seu universo e pelo arrojo gráfico do seu traço.
Publicado originalmente em França em três tomos (La folle du Sacré-Coeur, de 1992, Le Piège de l'irrationnel, de 1993, e Le Fou de la Sorbonne, de 1998), A Louca… foi uma das raras histórias que Jodorowsky escreveu sem ter em mente um desenhador predefinido, mas que encontrou em Moebius o ilustrador ideal, capaz de equilibrar a dimensão realista inicial, com os elementos místicos e fantásticos que vão tendo uma importância cada vez maior à medida que a história avança.
Obra de ficção delirante, mas onde são perceptíveis contornos autobiográficos, que o próprio Moebius acentua ao dar a Mangel parecenças físicas com Jodorowsky, A Louca do Sacré-Coeur é uma obra tão divertida como perturbadora, marcada pelo contraste. Contraste entre a espiritualidade e a sexualidade, entre a racionalidade e o misticismo, entre o sublime e o escatológico, entre o realismo de Giraud e a fantasia de Moebius.

Não sendo o trabalho mais famoso da dupla, distinção que cabe ao Incal, A Louca do Sacré-Coeur foi o canto do cisne da colaboração entre Moebius e Jodorowsky e um momento único de perfeito alinhamento entre os dois universos gráficos que marcaram a obra de Giraud. Claramente o trabalho mais pessoal da dupla Moebius/Jodorowsky, A Louca do Sacré-Coeur é, também por isso, o mais fascinante.
Texto publicado no jornal Público de 27/02/2015

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