domingo, 19 de junho de 2016

Novela Gráfica II 1 - V de Vingança

V DE VINGANÇA, DE ALAN MOORE ABRE SEGUNDA COLECÇÃO DEDICADA À NOVELA GRÁFICA

Novela Gráfica II
Vol 1
V de Vingança
Argumento – Alan Moore
Desenhos – David Lloyd
Quinta, 16 de Junho
Por + 9,90 €
É já na próxima quinta-feira que a Novela Gráfica regressa ao Público numa colecção, muito colecção muito pedida pelos leitores, dedicada aos maiores nomes da novela gráfica, que durante as próximas quinze semanas levará às bancas mais uma selecção de grande qualidade do que melhor que faz no campo da literatura desenhada. Uma colecção marcada pela diversidade, apostando essencialmente na divulgação de autores não publicados na colecção anterior, com a honrosa excepção de Moebius, Taniguchi e Altarriba e Kim, e que abre com chave de ouro, com a publicação de V de Vingança, um dos mais influentes trabalhos de Alan Moore, que aqui colabora com o seu compatriota David Lloyd.
Fábula distópica, ambientada numa Inglaterra governada por uma ditadura fascista, V for Vendetta (título original de V de Vingança) começou a ser publicada a preto e branco na revista britânica Warrior em 1982, e só seria completada anos mais tarde, em 1988, nos Estados Unidos, pela DC Comics, que publicou V como um mini-série em 10 volumes a cores, beneficiando da popularidade que Alan Moore tinha conseguido com o sucesso de Watchmen, a obra-prima de Moore, que a Levoir, com o apoio do Público, vai lançar directamente nas livrarias, durante este mês de Junho.
Ficção marcadamente política, na linha do 1984 de George Orwell, tendo como cenário uma Inglaterra poupada ao conflito nuclear, V de Vingança tem como personagem principal um misterioso mascarado anarquista que pretende pôr fim ao regime totalitário vigente, através de uma série de atentados à bomba. Embora a acção do livro decorra em 1998, não restam dúvidas que a fábula criada por Moore e Lloyd tinha por modelo o governo conservador de Margaret Tatcher, como os próprios reconhecem nos textos introdutórios à edição em livro.
Originalmente, Moore não pensava escrever uma distopia. Como o próprio refere: “V for Vendetta nasceu originalmente do facto de eu ter sido convidado pela revista Warrior a escrever uma série para David Lloyd ilustrar. Inicialmente, pensei numa história noir, um policial passado em 1930, mas Dave não estava especialmente interessado em ter de fazer pesquisas sobre os anos 30... Então, lembrámo-nos que talvez pudéssemos obter o mesmo efeito se passássemos a história para um futuro próximo. A partir dai, tudo evoluiu a partir de várias fontes diferentes, mas decidi jogar com o facto de em Inglaterra termos uma tradição bastante boa de vilões e sociopatas como heróis. Como o Robin Hood, Guy Fawkes e outros do género. E na nossa ficção, na BD infantil inglesa, havia tantos vilões sociopatas que tinham obtido suas próprias revistas, como havia heróis. Possivelmente mais. Os ingleses sempre tiveram grande simpatia por um bandido elegante”.
É precisamente um desses bandidos, Guy Fawkes, que em 5 de Novembro de 1605 tentou destruir à bomba o Parlamento Inglês, para assassinar o Rei James I, num atentado falhado, que ficou conhecido como o Gunpowder Plot. Um bombista mal sucedido que alguém, num típico momento de humor britânico, definiu como “o último homem a entrar no parlamento com boas intenções” que David Lloyd escolheu para emprestar as feições à máscara estilizada usada por V e que, graças ao sucesso do livro, mas sobretudo do filme produzido pelos irmãos Wachowski (Matrix) e realizado por James McTiegue, em 2006, se tornou o símbolo do movimento Anonymous.
Mais do que uma ficção política, ou um manifesto anarquista, V de Vingança é uma poderosa e assustadora história sobre a perda da liberdade e da identidade num mundo totalitário. Um livro imprescindível, do maior escritor de BD de língua inglesa, que está finalmente disponível em português.
Texto publicado originalmente no jornal Público de 10/06/2016

Sem comentários: