quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Sandman 11: A Vigília

E assim chegou ao fim a publicação de uma das mais importantes colecções de BD já lançadas neste país e, com ela, também os textos que sobre ela escrevi no Público. Para mim, foi um prazer espacial trabalhar na série Sandman, até por ver chegar ao fim uma edição que ficou interrompida nos meus tempos da Devir. Um agradecimento à Levoir e ao Público por me permitirem participar neste belo projecto, quase de serviço público aos leitores  portugueses de BD.

DEPOIS DO SONHO TERMINAR

Sandman – Vol. 11
A Vigília
Argumento – Neil Gaiman
Desenhos –  Michael Zulli, John J. Muth e Charles Vess
Quinta, 15 de Dezembro
Por + 11,90€
Com a publicação de A Vigília, na próxima quinta-feira chega ao fim a publicação da série original do Sandman, de Neil Gaiman, corrigindo assim mais uma grave lacuna na edição de BD em Portugal.
Apesar da morte de Morfeu no volume anterior a saga de Sandman não terminou aí. Em A Vigília, Gaiman dá tempo aos leitores e a si próprio, de se despedirem condignamente das personagens que os acompanharam durante uma década. Por isso, A Vigília é centrado no velório e no funeral de Morfeu, cuja vida é celebrada e evocada por ocasião da sua morte, numa cerimónia solene a que assistem literalmente todas as personagens da série.
A ilustrar esta história em três partes e o consequente epílogo, está Michael Zulli, um extraordinário desenhador cujo traço os leitores já tinham podido apreciar em outros volumes da série, mas que aqui mostra todo o seu talento em estado puro, sem uma passagem à tinta que roubasse a espontaneidade do seu desenho inicial a lápis. Aproveitando a evolução tecnológica, A Vigília foi um dos primeiros casos de um livro colorido e impresso a partir dos desenhos a lápis, mantendo intacta toda a subtileza do sumptuoso desenho de Zulli. Um traço de grande realismo e maior elegância onde são bem evidentes as influências da pintura pré-rafaelita e simbolista.
Se a história de Morfeu e a sua substituição por um novo Mestre dos Sonhos que, na essência continua a ser o mesmo Sadman embora, na verdade não o seja, tem o final perfeito nos episódios ilustrados por Zulli, havia ainda duas histórias que Gaiman queria contar, que funcionam como continuações e codas de Lugares Instáveis e Sonho de uma Noite de Verão.
Na primeira, Jon J. Muth ilustra, usando tinta-da-china, pincel e colagens, um conto oriental que reúne o velho e novo Sandman. E finalmente, tal como ficou estabelecido em Sonho de Uma Noite De Verão, Shakespeare entrega ao Senhor dos Sonhos a segunda da duas peças que lhe prometeu, em troca da imortalidade para o seu trabalho. Essa peça é, obviamente, A Tempestade, que foi a última peça que Shakespeare escreveu sozinho.
Um final perfeito para uma série magnífica, que continuará viva na cabeça e nos sonhos dos leitores.
Publicado originalmente no jornal Público de 09/12/2016

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