quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Harley Quinn 2 - Miúdas Sem Regras

HARLEY E HERA CONQUISTAM CONEY ISLAND

Harley Quinn: Miúdas sem Regras
Argumento – Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Stéphane Roux e Marco Failla
Quinta, 21 de Dezembro, Por + 10,90 €
Depois de ajudar Sy Borgman a eliminar a rede de antigos espiões do KGB infiltrados em Nova Iorque e a resolver antigas questões pendentes durante mais de 50 anos, o que implicou, entre outros momentos memoráveis, uma visita ao Jardim Zoológico, Harley regressa a casa onde a espera a Hera Venenosa. 
Criada em 1966, por Robert Kanigher e Sheldon Moldoff, Pamela Isley, a Hera Venenosa apareceu pela primeira vez no nº 181 da revista mensal do Batman, mantendo-se desde então como um dos principais vilões do universo do Cavaleiro das Trevas, mesmo que desde as mudanças operadas com a Linha Novos 52, apareça mais como uma anti-heroina, numa posição de equilíbrio precário entre o crime a legalidade, um pouco na linha da própria Harley Quinn  e da Catwoman, outras duas mulheres fatais do Universo DC, com quem costuma interagir.
E se a amizade entre Harley e Pamela já vinha sendo explorada desde os tempos da série de animação Batman the Animated Series, na fase de Palmiotti e Conner, a relação entre as duas vai mais além, sendo descrita pelo próprio Jimmy Palmiotti como “uma relação sentimental sem os constrangimentos da monogamia”, o que vem confirmar a bissexualidade de Harley Quinn.
Mas não é só em relação às opções sexuais da sua protagonista que Harley Quinn é uma série pouco convencional. Também a forma como a violência (extrema) é tratada, está mais próxima dos desenhos animados dos Looney Toons, no seu exagero, do que das histórias de super-heróis tradicionais. Ou seja, embora essa violência tenha consequências, é apresentada de uma forma tão extrema, que chega a ser divertida. Um pouco na linha do que costuma fazer Garth Ennis, em séries como o Preacher, na BD, ou Quentin Tarantino no cinema.
E por falar em cinema, não faltam também as referências cinematográficas nos argumentos de Palmiotti e Conner, a começar pelo próprio Tarantino, logo no capítulo três deste volume, onde há uma homenagem, mais ou menos óbvia, aos filmes Pulp Fiction e Kill Bill. Aliás, este terceiro capítulo é claramente aquele em que os autores mais longe levam o jogo referencial, que além do cinema, com as homenagens aos filmes de Tarantino e ao Rollerball e Fight Club, conta com uma participação muito especial da chefia criativa da própria DC, presente numa reunião ultra-secreta num arranha-céus de Manhattan, que é bombardeado pelo engenhoso sistema criado por Tony Grande para reciclar os excrementos das centenas de cães e gatos que Harley resgatou no primeiro volume. Nessa divertida sequência é possível reconhecer Dan Didio (com uma camisa azul com símbolos do Super-Homem), Jim Lee e Geoff Johns, os três mais poderosos editores da DC que, uma vez que esta cena não foi cortada, revelam ter sentido de humor…Embora o trabalho gráfico de Marco Failla e sobretudo de Stéphane Roux, que ilustra o capítulo final que reconta a origem da Harley Quinn, seja atraente e eficaz, muito do sucesso desta fase da Harley Quinn repousa nos ombros de Chad Hardin, o desenhador principal da série. Excelente desenhador, Hardin consegue um equilíbrio perfeito entre eficácia narrativa, espectacularidade, erotismo, humor e legibilidade, que está ao alcance de poucos.
Publicado originalmente no jornal Público de 16/12/2017

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